INTERNACIONAL

A Primavera Árabe, primeira revolução do smartphone

Nunca uma revolução brilhou tanto. Graças às redes sociais e aos smartphones, o espírito da Primavera Árabe varreu o Oriente Médio e contribuiu para derrubar ditaduras

AFP
30/11/2020 às 06:40.
Atualizado em 24/03/2022 às 02:53

Nunca uma revolução brilhou tanto. Graças às redes sociais e aos smartphones, o espírito da Primavera Árabe varreu o Oriente Médio e contribuiu para derrubar ditaduras. Desde então, a contra-ofensiva digital de Estados autoritários silenciou muitos ativistas.

Naquela época, por não ser capaz de dominar essas ferramentas, os regimes do Norte da África e do Oriente Médio foram surpreendidos com a velocidade com que se espalhou o fervor dessas revoltas populares na internet.

Hiperconectadas e em sua maioria sem liderança, essas mobilizações fizeram a Primavera Árabe disparar em todas as direções, com flashmobs difíceis para as autoridades conterem ou reivindicações surgindo de reuniões públicas na internet sem comitês de direção a portas fechadas.

"Os blogs e as redes sociais não foram o gatilho, mas acompanharam os movimentos", estima o ex-ativista tunisiano Sami Ben Gharbia, autor de um blog no exílio e que voltou a seu país durante o levante de 2011. "Foram uma arma de comunicação formidável."

Desde então, os Estados autoritários preencheram suas lacunas, munindo-se de um arsenal de vigilância cibernética e censura na web, bem como exércitos de "trolls".

A esperança nascida da Primavera Árabe, por sua vez, morreu rapidamente sob o ataque de novos regimes ainda mais repressivos ou guerras devastadoras na Síria, Líbia e Iêmen.

No entanto, os ativistas pró-democracia consideram essas revoltas uma grande guinada digital, que foi seguida no mundo por "manifestações por hashtag", como Occupy Wall Street e Black Lives Matter nos Estados Unidos ou o Movimento dos Guarda-Chuvas em Hong Kong.

Hoje, segundo os ciberativistas árabes, os Estados não têm mais tanto controle sobre o que os cidadãos podem ver, saber e dizer, como mostram as ondas de descontentamento de 2019 e 2020 em Argélia, Sudão, Iraque e Líbano.

Apesar do aumento da censura em muitos países, o sopro de liberdade melhorou a vida diária. Principalmente no país onde tudo começou, a Tunísia.

No dia 17 de dezembro de 2010, o ambulante Mohamed Bouazizi, 26, farto da pobreza e das humilhações policiais, ateou fogo a si mesmo em Sidi Bouzid, centro do país. Seu ato desesperado ilustrou o sofrimento de milhões de pessoas no mundo real, mas foi graças ao mundo virtual que sua provação desencadeou um movimento de protesto que se espalhou como um incêndio.

Os smartphones, ao possibilitarem a captura de fotos e vídeos, tornaram-se armas de informação do cidadão, permitindo que todos testemunhem e se mobilizem, uma tendência chamada em inglês de "mass mobile-isation".

"Stories" são publicadas no Facebook, fora do alcance das autoridades repressivas que há décadas amordaçam a mídia tradicional.

"O papel do Facebook foi decisivo", lembra Hamadi Kaloutcha, que voltou à Tunísia depois de estudar na Bélgica e que lançou em 2008 o fórum "I have a dream: uma Tunísia democrática".

"Podíamos publicar as informações debaixo dos olhos do regime", conta. "A censura estava bloqueada, ou eles censuravam tudo o que circulava ou não censuravam nada."

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