Assustada com a propagação de uma doença contagiosa, a população se dota de máscaras improvisadas, apesar dos especialistas duvidarem de sua utilidade. Embora pareça familiar, essa história ocorreu mais de um século atrás, durante a "peste da China".
A ideia de que uma doença pode ser transmitida de uma pessoa para outra existe desde pelo menos o século XVI como "teoria médica séria", explica à AFP William Summers, especialista em história da medicina na Universidade de Yale.
Naquela época, porém, as máscaras eram "mais como amuletos destinados a afastar a influência maléfica", segundo Summers.
Mas em meados do século XIX, a identificação de micróbios permitiu o desenvolvimento de "teorias germinativas" para explicar os mecanismos de infecção.
Assim, na década de 1890, máscaras apareceram nas salas de cirurgia. E foi nesse momento que uma epidemia de peste emergiu em Hong Kong, antes de se espalhar.
Essa pandemia, chamada "peste da China", chegou à Manchúria em 1910. Com uma taxa de mortalidade de quase 100%, temia-se que a doença viajasse através das novas linhas ferroviárias, chegando a Pequim e até à Europa.
"Matava todas as pessoas infectadas, 24 a 48 horas após os primeiros sintomas", explica Christos Lynteris, antropólogo da Universidade de St Andrews, na Escócia. "Foi apocalíptico".
Wu Lien Teh, um jovem médico nascido na Malásia e formado em Cambridge, viajou para a Manchúria e tentou convencer seus colegas de que a peste não era apenas bubônica transmitida pela picada de pulgas infectadas, mas também pulmonar.
Wu argumentava que um paciente com peste pulmonar "podia transmitir a doença a outras pessoas através do ar, sem intervenção das pulgas", explica Lynteris. "Foi inovador e escandaloso" e envolvia o uso de máscara, acrescenta.
Mas, na época, as autoridades de saúde enfrentavam dois grandes obstáculos, segundo Summers, autor de um livro sobre essa epidemia na Manchúria.
O primeiro era político: o "caos" na Manchúria, cujo controle era disputado pelos japoneses e pelos russos contra a dinastia Qing, em declínio.
O segundo era fazer a população, acostumada à medicina tradicional, aceitar uma mudança baseada em uma descoberta científica.
Mas um evento tirou a população de sua "letargia", explica Wu em sua autobiografia: a morte de seu colega francês Gérald Mesny, alguns dias depois de ter sido infectado em um hospital que ele havia visitado sem proteção, por não ter levado a sério o seu jovem colega.
A demanda por máscaras explodiu. "Todo mundo usava na rua, de maneiras diferentes", escreveu Wu.