INTERNACIONAL

A luta incansável da mãe de um civil executado por militares na Colômbia

Foram nove anos reconstruindo a execução extrajudicial de seu filho. Na busca por justiça, Carmenza Gómez descobriu uma "banda podre" do exército colombiano e exige a verdade sobre o crime

AFP
14/05/2020 às 11:48.
Atualizado em 30/03/2022 às 00:58

Foram nove anos reconstruindo a execução extrajudicial de seu filho. Na busca por justiça, Carmenza Gómez descobriu uma "banda podre" do exército colombiano e exige a verdade sobre o crime.

Víctor Gómez trabalhava como segurança em Bogotá. Em 23 de agosto de 2008, ele desapareceu junto com Diego Tamayo e Jader Palacio. No mês seguinte, seus corpos foram encontrados muito longe de Soacha, a cidade onde moravam ao sul de Bogotá.

Com a falsa promessa de um emprego melhor, desconhecidos - identificados mais tarde - os levaram ao departamento (estado) de Norte de Santander, na fronteira com a Venezuela.

"Eles os embriagaram e os levaram para um falso posto de controle do exército ... No dia seguinte, amanheceram mortos", disse a mulher de 62 anos à AFP. "Victor levou um tiro na testa, um tiro de graça."

Autoridades identificaram o jovem de 23 anos como membro de uma organização paramilitar que morreu em combate. Ele era o sexto de oito filhos que Carmenza criou sozinha.

A mulher conta que descobriu o que aconteceu com Victor porque um estagiário do instituto médico legal, primo de um de seus amigos desaparecidos, encontrou a foto de seu parente. O corpo estava em um necrotério a 740 quilômetros de Soacha.

No mesmo álbum, também estava Victor. "Você quer que a terra se abra e leve você. Eu desmaiei", lembra ela. "Um pai ou mãe nunca está preparado para ver um filho morto"

Ela juntou o dinheiro que pôde e viajou em busca do corpo do filho, que junto com outros cadáveres estava sendo transferido do necrotério para uma vala comum. Com o tempo, os 19 jovens de Soacha foram localizados em várias covas.

"Fui eu quem descobriu essa "banda podre" do exército", diz a mulher, que recebeu proteção do Estado para garantir sua segurança.

Sem imaginar, Carmenza começou a desvendar o maior escândalo da história das Forças Armadas colombianas: os "falsos positivos", execuções de civis por militares que as apresentavam como baixas em combate para aumentar os resultados de um conflito que ensanguentou o país por quase sessenta anos.

A promotoria registrou 2.248 "falsos positivos" - em grande parte, jovens pobres - entre 1988 e 2014. Cinquenta e nove por cento dos casos ocorreram durante o governo do agora senador Álvaro Uribe (2002-2010), que lutou incansavelmente contra os grupos rebeldes.

Como recompensa, os militares recebiam dias de folga, medalhas e promessas de ascensão. Quando o paradeiro dos jovens desaparecidos de Soacha foi confirmado, o governo destituiu 27 soldados e Uribe negou qualquer responsabilidade.

Começou então a maratona judicial de Carmenza e outras 13 mulheres que formam o Coletivo Mães dos Falsos Positivos.

Enquanto buscavam justiça, em 4 de fevereiro de 2009, indivíduos não identificados mataram a tiros outro de seus filhos, John.

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