INTERNACIONAL

A luta de uma banda feminina para ganhar espaço no Irã

Os homens aplaudiram, as mulheres assobiaram e o grupo cantou. Teria sido algo comum se não fosse o fato de o show ter acontecido em um anfiteatro público no Irã e a banda ser 100% feminina

AFP
21/09/2020 às 18:17.
Atualizado em 25/03/2022 às 00:12

Os homens aplaudiram, as mulheres assobiaram e o grupo cantou. Teria sido algo comum se não fosse o fato de o show ter acontecido em um anfiteatro público no Irã e a banda ser 100% feminina.

A música rítmica e cativante que tocaram naquela noite quente se chama "bandari", e as canções são baseadas em temas folclóricos transmitidos de geração em geração e familiares a grande parte do público.

Porém, desta vez a música era tocada por mulheres, em um festival organizado pelo Estado para destacar a "música do Golfo Pérsico". Vestidas com roupas tradicionais, as mulheres também tocaram alaúde e tambores "dohol".

Pouco depois, o público começou a acompanhar a banda, entoando as canções que as quatro artistas cantaram no palco de Bandar Abbas, no sul do país.

Esse tipo de expressão de alegria é frequentemente desaprovado pelas autoridades do Irã, que há mais de 40 anos é governado por um regime islâmico rígido.

"Parece que uma nova parte da sociedade nos viu", declarou Noushin Yousefzadeh, que toca alaúde. "Pelo menos todos os ensaios serviram para alguma coisa".

A banda de Yousefzadeh, "Dingo", foi formada no final de 2016. De acordo com o dialeto local, o nome do grupo se refere aos primeiros passos que as crianças dão.

Esse show, que fizeram no ano passado, havia sido apresentado apenas uma vez antes para um público misto.

"Os festivais são uma grande oportunidade porque, em circunstâncias normais, não podemos cantar na frente dos homens", disse a percussionista Faezeh Mohseni.

Tanto ela quanto suas companheiras usavam vestimentas tradicionais muito coloridas, com lantejoulas e bordados em ouro, comumente usadas pelas mulheres da província de Hormozgan.

Quando se apresentam para um público feminino, Faezeh canta solo. Mas alguns dias antes da apresentação, foram informadas que homens e mulheres iriam comparecer, então o grupo teve que se adaptar.

"Tivemos que passar dias ensaiando cantando em coro", explicou Malihe Shahinzadeh, que toca "pippeh", outro tipo de percussão local.

Que as mulheres podem cantar em público não está totalmente claro na República Islâmica.

Nenhuma lei proíbe isso especificamente, de acordo com Sahar Taati, ex-diretora do departamento de música do Ministério da Cultura e Orientação Islâmica, conhecido como Ershad.

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