INTERNACIONAL

A busca tenaz por justiça dos exilados sírios na Europa

Em 19 de agosto de 2020, na cidade de Koblenz, oeste da Alemanha, a 3.000 km de Damasco, o refugiado sírio Wassim Mukdad viu "uma luz na noite" da Síria

AFP
09/03/2021 às 07:11.
Atualizado em 22/03/2022 às 09:27

Em 19 de agosto de 2020, na cidade de Koblenz, oeste da Alemanha, a 3.000 km de Damasco, o refugiado sírio Wassim Mukdad viu "uma luz na noite" da Síria.

Na Alta Corte Regional de Koblenz, Wassim Mukdad, 36 anos, falou publicamente sobre a tortura que sofreu em um centro de detenção do regime, depois de ser preso em setembro de 2011 em Duma, onde pretendia participar em uma das manifestações brutalmente reprimidas que pediam a saída do presidente Bashar al Assad.

O depoimento funcionou "como uma terapia", explica. Na sala de audiências, Mukdad descreveu os três "interrogatórios" que sofreu, com os olhos vendados, uma costela fraturada e os pés lacerados, na prisão de Al Khatib em Damasco.

No primeiro julgamento no mundo pelos crimes atribuídos ao regime sírio, testemunhar curou feridas abertas desde partiu para o exílio em 2014, primeiro para Gaziantep, Turquia, e depois Berlim.

"Finalmente tive a sensação de que minha história importava, que não havia sofrido os abusos em vão", conta à AFP Mukad, um dos exilados que recorreram à justiça europeia para que os crimes em larga escala na Síria não fiquem impunes.

Há quatro anos, quase 100 refugiados, apoiados por uma ONG de Berlim, o Centro Europeu para os Direitos Constitucionais e Humanos (ECCHR), denunciam altos funcionários sírios na Alemanha, Áustria, Noruega e Suécia. Investigações também estão em curso na França.

Em toda a Europa, os sírios, ONGs e especialistas da ONU reúnem depoimentos, analisam fotos, vídeos e arquivos sobre um dos conflitos mais bem documentados da história. E perseguem os torturadores que se passam por refugiados, tentando ocultar seu passado obscuro.

De acordo com os ativistas, as pessoas vinculadas ao regime seriam mil no continente. Entre eles, segundo a oposição austríaca, estaria um ex-general da Segurança do Estado de Raqa, Khaled al Halabi, ao qual Viena concedeu asilo.

Em 2020, os investigadores alemães prenderam nas proximidades de Frankfurt um médico sírio suspeito de torturar feridos em um hospital em Homs. Dois primos de uma vítima, refugiados na Europa, identificaram o suspeito.

Os esforços dos sírios têm mais sucesso na Alemanha, que abriga a maior parte da diáspora na Europa.

O tribunal de Koblenz acaba de pronunciar uma condenação histórica de um ex-agente do serviço de inteligência sírio por cumplicidade em crimes contra a humanidade.

Este tribunal pode anunciar um segundo veredicto no fim do ano contra Anwar Raslan, ex-coronel de inteligência acusado pela morte de 58 detidos na prisão de Al Khatib, para onde Mukdad foi enviado.

Os sírios se baseiam no princípio de "jurisdição universal" que permite julgar uma pessoa por graves delitos cometidos em qualquer parte do mundo.

Atualmente, esta é a única possibilidade de julgar crimes na Síria devido à paralisação da justiça internacional, afirma Catherine Marchi-Uhel, que lidera o Mecanismo Internacional, Imparcial e Independente (MIII), encarregado pelas Nações Unidas de investigar os crimes neste país.

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