INTERNACIONAL

A batalha perdida das favelas latino-americanas contra o coronavírus

Era uma questão de tempo. O coronavírus penetrou nas favelas da América Latina e seus milhões de habitantes precisam enfrentá-lo em realidades adversas: a falta de serviços básicos e a impossibilidade de cumprir o confinamento por ter que buscar sustento

AFP
27/05/2020 às 13:38.
Atualizado em 27/03/2022 às 22:25

Era uma questão de tempo. O coronavírus penetrou nas favelas da América Latina e seus milhões de habitantes precisam enfrentá-lo em realidades adversas: a falta de serviços básicos e a impossibilidade de cumprir o confinamento por ter que buscar sustento.

As autoridades sanitárias mundiais e especialistas alertaram para o perigo da pandemia nesses locais.

"Estamos cada vez mais preocupados com os pobres e outros grupos vulneráveis com maior risco de doença e morte pelo vírus", disse dias atrás a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde, Carissa Etienne.

"Villas miseria" na Argentina, "barriadas" no Peru, favelas no Brasil, "cerros" na Venezuela, população "callampa" no Chile... Independente de como são conhecidas, embora com níveis variáveis de precariedade e características próprias, possuem traços comuns que fazem das recomendações de saúde uma utopia.

Com a curva de contágio ainda acelerando em países como Brasil, Peru e Chile, e uma possível subnotificação de casos, a catástrofe piorará.

Um episódio na segunda-feira colocou as autoridades argentinas em alerta, quando 84 casos de COVID-19 foram confirmados em Villa Azul, um assentamento informal na periferia do sul da capital, onde há mais de cem casos suspeitos.

O governo da província de Buenos Aires optou por isolar os 3.000 habitantes do local, fechando seus acessos. Se o vírus chegar à vizinha Itatí, do outro lado da rodovia e com cerca de 16.000 habitantes, o quadro será complicado.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, existem 1,7 bilhão de pessoas no mundo trabalhando no setor informal.

Para elas, "existe uma contradição entre morrer de fome ou morrer do vírus", disse à AFP a economista brasileira Dalia Maimon, coordenadora do Laboratório de Responsabilidade Social (LARES) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A lógica predominante é que ""se morrer de fome para mim é certo, vou arriscar de não me contaminar pelo vírus e vou trabalhar"", ilustra.

Na "Villa Azul" de Buenos Aires, as autoridades planejam distribuir alimentos, remédios e produtos de desinfecção e higiene pessoal, mas, como em outras favelas, prevalece a desconfiança e o sentimento de abandono.

"Até a semana passada eu trabalhei, mas agora não temos saída, me dá a sensação de que estamos presos", diz José Sequeira, de 63 anos. "Tenho um pouco de dinheiro economizado, mas se não posso ir às compras, não sei o que vou comer"

Villa Azul é um dos 1.800 bairros vulneráveis que abrigam mais de 3 milhões de pessoas nos arredores de Buenos Aires.

Outras 350.000 moram em "villas" na própria cidade. Numa delas, a conhecida Villa 31, as infecções se multiplicaram de forma alarmante há duas semanas, em meio a um prolongado corte de água. O evento forçou a parar a flexibilização da quarentena geral.

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