O dia em que a terra parou...

07/04/2022 às 07:09.
Atualizado em 07/04/2022 às 07:11
 (Divulgação)

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Nem todos os humanos são capazes de externar o amor de forma falada, mas o fazem através de sentimentos. Nessa modalidade, os animais são especialistas.

Um cão abandonado, quando abana o rabo para alguém, significa implorar por piedade e amparo, por uma nova chance, à espera de encontrar um novo lar, um tutor verdadeiro, que lhe dê a devida atenção e carinho, ao qual responderá com um amor incondicional.

Ao contrário, com o rabo entre as pernas, caminhando vagarosamente e desalinhado, é a desolação, a desesperança de lutar apenas por um fiozinho de vida que lhe resta. A partir daí, tudo se consuma e o consome. Além do medo, da depressão profunda, a comida e a água já não fazem mais parte de seu cardápio de sustentação corporal. Exposto às crueldades, à ira dos implicantes, a inanição fecha o seu ciclo de vida. Andou quilômetros e mais quilômetros à procura de seu dono, farejou os diversos ares circundantes, mas em vão, não lhe restava outra alternativa, a não ser a de sucumbir à inglória jornada. 

Os soltos nas cidades, a vagarem pelas ruas, sempre lhes resta a esperança de encontrar um restinho de comida nos sacos de lixo e uma poça d'água nas sarjetas, mas com a grande possibilidade de encontrar um humano bondoso, que lhe satisfaça o seu estômago vazio e a sua garganta sedenta. Já, os abandonados nas rodovias, não têm a mesma oportunidade. Da alegria de um "suposto passeio", à decepção. O latido desesperado, como se tivesse sido esquecido, a distância aumenta, e seu destino se desenha tragicamente. Só lhe resta morrer por um atropelamento ou pela desidratação e inanição. Não há mais forças, tudo se consuma, o seu ciclo de vida se fecha.

Os pobres gatos são discretos até para morrer envenenados, ou trucidados por passarinheiros e os que implicam com os amados felinos. "Quem não tem cão caça como gato", diz o ditado, e os gatos sobrevivem de pequenas caçadas e das almas bondosas que constroem casinhas e os alimentam. Quando ainda filhotes, têm a chance da adoção. 

A irresponsabilidade de alguns "proprietários" é tamanha que preferem manter seu cão em cativeiro, acorrentado, em condições precárias de higiene, às vezes, sem água e comida, ao relento, sob chuva ou sol escaldante.

Qualquer tipo de conduta humana de maus-tratos beira ao sadismo. Para alguns, cuidar de um animal é um ato irracional, uma obsessão, coisa de desocupados. São críticos que podem ser perniciosos à sociedade pelo egoísmo e do especismo que ostentam. O abandono é uma forma demente, cruel, ainda mais quando se descarta um ser que tem sentimentos similares ao do homem. Infelizmente, a lei contra os maus-tratos é branda, não intimida o malfeitor.

A "fabricação em série" é outro fator que favorece o abandono. Comprar um animal não basta, deve garantir os cuidados com sua saúde, de seu conforto, de seu bem-estar e a da castração, para que não seja mais um disseminador de crias nas ruas. Um filhote cresce rápido e, para quem não têm tanta intimidade com ele, é um destinado a ser descartado. 

Os que têm o seu cão ou um gato e outro animalzinho, devem saber que, apesar de um rudimento de consciência, pressentem a agonia de seus donos. Em momentos de tristeza, angústia, buscam a grande interação e a transforma em uma troca de energia, a qual restabelece o equilíbrio emocional. Essa enorme interação de amizade é terapêutica, fortalece o sistema imunológico humano contra as doenças da alma e do corpo, como demonstrado em trabalhos acadêmicos. 

No dia 4 deste mês foi comemorado o "Dia Mundial dos Animais Abandonados" e muitos voluntários não esmorecem, mesmo sem tempo ou recursos financeiros, no combate ao abandono ou daqueles que se perderam. Podemos incluir nessa luta, a nossa polícia civil e militar, que sempre dão respaldo à causa, quando solicitadas. A todos os envolvidos na causa animal, minha gratidão.

João Salvador é biólogo (Cena/USP)

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