Papa anunciou que reformaria a Cúria do Vaticano poucos dias após ser eleito no conclave
O Papa Francisco declarou nesta segunda-feira não ter sentido qualquer resistência em relação ao seu desejo de reformar a Cúria e defendeu seus colegas, apesar de reconhecer a existência de escândalos. "Há santos na Curia, pessoas leais. E se existe resistência, eu ainda não vi. Eu faço justiça ao dizer isso", disse o Papa a jornalistas a bordo do avião que o trouxe de volta do Rio de Janeiro a Roma. Francisco, que declarou sua vontade de reformar a Cúria e que não poupa críticas ao carreirismo e ao mundanismo, disse que prefere "um funcionário que diz: 'Eu não concordo com o que diz' do que aquele que diz 'está tudo' e que faz o oposto". "Os cardeais que eu conheço não vivem em ambiente rico e suntuoso. Os que eu conheço são austeros. Eles vivem em pequenos apartamentos. Eles trabalham muito. Alguns vão anonimamente ajudar os pobres em seu tempo livre", ressaltou. Questionado sobre o caso do arcebispo Scarano, preso por suposta corrupção, e sobre os escândalos em geral, o Papa argentino respondeu: "Uma árvore que cai faz mais barulho que uma floresta que cresce". Mas "há alguns que fazem escândalo", reconheceu. "A austeridade em geral é necessária a todos", disse ele, refletindo o que procura incutir no Vaticano. O Papa argentino insistiu que não sabe como vai terminar" a reforma do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano, abalado por vários escândalos. Ele citou três hipóteses: transformá-lo em um banco real (e não uma instituição de gestão de fundos), torná-lo um fundo mútuo, ou fechá-lo. Ele disse confiar na comissão que nomeou em junho. Sobre o escândalo do vazamento de documentos confidenciais, o Vatileaks, sobre o qual Bento XVI deu a ele um dossier, alegou não ter ficado "horrorizado" ao lê-lo. O Papa disse que "continua a pensar como um jesuíta", acrescentando, de forma irônica, sem ser "hipócrita". Nesta segunda-feira o Vaticano anunciou que assinou junto com o governo italiano um "protocolo de acordo" para cooperar na luta contra a lavagem de dinheiro. O acordo foi assinado em 26 de julho pela Autoridade de Informação Financeira (AIF) do Vaticano, dirigida por um suíço especializado em crimes financeiros, e por Roma pela Unidade de Informações Financeira (UIF) do Banco da Itália, segundo um comunicado da Santa Sé. Bento XVI, e agora seu sucessor Francisco, decidiram colocar ordem no IOR, nomeando sucessivamente novos responsáveis e instaurando controles cada vez mais severos por este instituto, principalmente com a criação da AIF, no final de dezembro de 2010.