WWF e o Greenpeace, entre outras, anunciaram retirada porque o encontro 'não leva a nada'
As principais Organizações Não-Governamentais de proteção do meio ambiente, como o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e o Greenpeace, anunciaram nesta quinta-feira (21) sua retirada da conferência sobre o clima realizada em Varsóvia porque o encontro "não leva a nada". "As organizações e movimentos que representam a sociedade civil em todos os lugares do mundo decidiram aproveitar melhor seu tempo e se retirar das negociações de Varsóvia", afirmam seis organizações em um comunicado publicado um dia antes do encerramento oficial da conferência. "Esta conferência de Varsóvia, que deveria ter representado uma etapa importante na transição para um futuro sustentável, não leva a nada", afirmam Greenpeace, Oxfam, WWF, Amigos da Terra Europa, Confederação Internacional de Sindicatos e ActionAid International. A conferência de Varsóvia sobre o clima terminará nesta sexta-feira, após quase duas semanas de negociações para a redução das emissões de gases de efeito estufa no mundo. Os participantes esperavam estabelecer as bases de um acordo que deve ser assinado em Paris em 2015. Após mais uma noite de tratativas, a comissária europeia para o clima, Connie Hedegaard, lamentou que "as negociações não têm avançado". "Nós não podemos nos dar ao luxo de dar um passo atrás em relação a Durban, precisamos avançar", alertou, em referência à conferência da ONU em 2011, durante a qual a comunidade internacional decidiu selar um acordo em 2015. Este acordo, que deve entrar em vigor em 2020, pretende ser o mais ambicioso sobre a questão ambiental: universal, juridicamente vinculante, com o objetivo de reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE) e conter o aquecimento global a 2°C em relação a era pré-industrial. Até o momento, a trajetória é de de 3,6°C, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Mas o caminho até Paris está cheio de obstáculos, principalmente sobre a divisão da responsabilidade entre países industrializados e países em desenvolvimento, com destaque para os grandes emergentes como a China, maior poluidora mundial. Os grandes países emergentes insistem que os países industrializados, responsáveis históricos pelo aquecimento, devem fazer muito mais que eles, ressaltando seu "direito ao desenvolvimento". Esta posição é rejeitada pelos Estados Unidos, segundo maior poluidor mundial, que não aceita que a China tenha um tratamento diferenciado. "Devemos deixar as ideologias fora da sala", declarou nesta quinta-feira o negociador americano Todd Stern. Um acordo baseado nesta linha de divisão entre países desenvolvidos e em desenvolvimento "não funcionará", insistiu. Mas poucos minutos após este discurso, o negociador chinês lembrou os delegados de que "existe de um lado países em curso de industrialização e outros que são pós-industriais", e "esta divisão continuará a existir após 2020". Assim, o ministro Zhenhua Xie fez um apelo para que o acordo de 2015 inclua "objetivos quantitativos de redução drástica das emissões de GEE" para os países industrializados, e que os países em desenvolvimento apenas "reforcem seus esforços" neste sentido. Segundo o diretor de Greenpeace internacional, Kumi Naidoo, "a China pode mudar a situação, mas ainda não traduziu seus esforços nacionais em compromissos construtivos nessas discussões". Para todos os efeitos, os países do Norte não são poupados pelas ONGs, que criticam o declínio do Japão, Austrália e Canadá na luta contra as mudanças climáticas, e sobre a questão da assistência financeira aos países do Sul, "os governos têm cuspido na cara daqueles que sofrem com as mudança climáticas", disse Naidoo. Desenvolvidos x emergentes Os países em desenvolvimento querem que os mais ricos assumam uma parte maior do corte das emissões, por considerar que cresceram com base na queima de combustíveis fósseis. Os desenvolvidos, no entanto, insistem em que as economias emergentes precisam assumir sua parte de forma justa, argumentando que os problemas futuros com o aquecimento global serão consequência do desenvolvimento dos grandes emergentes, que queimam suas reservas de carvão com voracidade. A China é hoje o maior emissor de CO2, com a Índia em quarto lugar, atrás dos Estados Unidos e da Europa. O chefe das negociações no Brasil, chanceler Luiz Alberto Figueiredo Machado, disse nesta quinta-feira que o novo acordo precisa ter "tipos diferentes de obrigações para diferentes países e grupos de países". A China, por sua vez, reforçou que as desigualdades entre países desenvolvidos e em desenvolvimento "vão persistir após 2020". Mas o enviado americano, Todd Stern, afirmou que um acordo sem obrigações distintas entre grupos com base em uma visão ultrapassada de divisão de países ricos e pobres "não vai funcionar". Segundo ele, os trabalhos para um acordo em 2015 só serão bem sucedidos "se deixarmos a ideologia de fora". Outra questão polêmica é financeira. Os países desenvolvidos prometeram em 2009 uma ajuda de 100 bilhões de dólares ao ano até 2020 para os países mais vulneráveis, mas estes últimos perderam a paciência por não ver chegar a ajuda prometida. No entanto, ainda lutando contra uma crise econômica, o mundo desenvolvido é cauteloso em apresentar um plano detalhado neste estágio ou se comprometer com quaisquer cifras no curto prazo. Além disso, os países em desenvolvimento querem criar um "mecanismo" que os ajudará a identificar os prejuízos e fazer frente aos efeitos das mudanças climáticas. Os desenvolvidos temem que isto represente uma dívida sem fim. 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