Mohammed Ibrahim é acusado de ser um dos artífices da violenta repressão contra os partidários de Mursi
O ministro egípcio do Interior escapou ileso de um atentado com carro-bomba nesta quinta-feira (5) na passagem de sua comitiva no Cairo. Mohammed Ibrahim é acusado de ser um dos artífices da violenta repressão contra os partidários do presidente islamita deposto Mohamed Mursi. Pouco depois da explosão, o ministro advertiu para o risco de "uma onda de terrorismo", algo a que o governo egípcio prometeu reagir com 'mão de ferro'. O país está sob estado de emergência desde a destituição e detenção de Mursi pelo Exército, em 3 de julho, que provocou uma onda de violência que deixou mais de de 1.000 mortos no Egito, em sua maioria manifestantes islamitas. As autoridades nomeadas pelo Exército afirmaram que não permitirão o retorno do "terrorismo dos anos 1980 e 1990", marcados por ataques sangrentos. O ataque aconteceu perto da residência do ministro, em Nasr City. Ibrahim afirmou que quatro veículos de seu comboio foram destruídos e citou vários feridos no atentado. Duas horas depois da explosão, o ministro denunciou na televisão uma "tentativa de assassinato covarde". Esta escalada da violência era previsível, segundo Ibrahim. "Eu previ que com a dispersão (das manifestações pró-Mursi no Cairo), haveria uma onda de terrorismo", considerou à imprensa. Em uma recente entrevista, Ibrahim afirmou que tem recebido ameaças de morte. O Exército e o governo asseguram que travam "uma batalha contra o terrorismo", enquanto o gabinete presidencial indicou "que este ato criminoso" não impedirá "o combate com força e determinação contra qualquer um que ameace a segurança nacional".Islamitas A Aliança contra o Golpe de Estado, uma coalizão islamita egípcia que organiza a mobilização dos simpatizantes do presidente destituído Mohamed Mursi, condenou o ataque contra o ministro do Interior. "O ataque deve ser condenado, independentemente dos autores", afirmou Amr Darrag, um dos líderes da Aliança. "Reiteramos nosso enfoque pacífico, que é observado claramente em cada uma de nossas manifestações", completou. A Gamaa al-Islamiya, responsável por vários ataques nos anos 1990, também negou participação no ataque, denunciando um ato de "terrorismo". Mais tarde, o Departamento de Estado americano "condenou fortemente" esse ataque "odioso", e afirmou que os autores devem ser levados à justiça, indicou sua porta-voz, Jen Psaki. O ataque aconteceu depois da violenta repressão contra os partidários do presidente Mursi, em uma operação na qual a polícia, sob as ordens do ministro do Interior, teve participação importante. No dia 14 de agosto, a polícia foi responsável pela morte de centenas de manifestantes reunidos na capital. No dia anterior ao massacre, o ministro Ibrahim havia autorizado as forças de ordem a atirar contra os manifestantes. Desde a destituição de Mursi, mais de 2.000 membros da Irmandade Muçulmana foram detidos, incluindo seu Guia Supremo, Mohammed Badie. Os islamitas convocam regularmente novas mobilizações, insistindo em seu caráter pacífico. Mas para os especialistas, parte dos islâmicos pode se radicalizar e aderir ao terrorismo após o golpe de Estado militar. "Há uma repressão por parte das forças de segurança e a crise ainda é recente", alerta Issandr El Amrani, responsável da África do Norte no International Crisis Group. "É evidente que alguns islamitas sintam que não há negociação possível com o regime e que há apelos públicos à violência. O norte do país, a península do Sinai, onde grupos jihadistas estabeleceram bases, voltou a registrar um grande número de ataques, sendo que o mais violento, em 19 de agosto, deixou 25 policiais mortos. Nesta quinta-feira, um policial e um oficial foram mortos por homens armados em dois ataques distintos no Sinai e na estrada que liga o Cairo a Ismaïliya, no canal de Suez, segundo fontes dos serviços de segurança. Dez oficiais da polícia ficaram feridos no atentado contra o ministro, segundo membros da segurança. Uma autoridade do ministério afirmou que um dos policiais perdeu uma das pernas na explosão. A polícia bloqueou imediatamente as estradas de acesso ao ministério no centro da cidade, como medida de prevenção. Esse foi o primeiro atentado com carro-bomba no Cairo em muitos anos. Confrontado com a violência, o governo interino instaurado pelo Exército decretou estado de emergência em 14 de agosto, por um mês. Foi justamente a suspensão desse estado uma das conquistas da revolta popular que derrubou Hosni Mubarak no início de 2011. Um toque de recolher foi imposto em metade das províncias. O presidente interino disse recentemente que o estado de emergência pode, como prometido, ser retirado em meados de setembro, mas o ataque contra Ibrahim poderia mudar isso.