PT mineiro avança sobre bases tucanas e prepara terreno para candidatura de Pimentel ao governo
Na eleição municipal de 2008, o petista Fernando Pimentel e o tucano Aécio Neves construíram um consórcio de poder que deixou o mundo político perplexo. Um dia depois de eleger o desconhecido empresário Márcio Lacerda, do PSB, prefeito de Belo Horizonte, a dupla comemorou a vitória da “tese da aliança” e de um “projeto” que estava acima das divergências partidárias. Cinco anos depois, o senador tucano Aécio Neves roda o Brasil para viabilizar sua candidatura à Presidência em 2014 enquanto o PT mineiro avança sobre bases tucanas e já prepara o terreno para a candidatura de Fernando Pimentel ao governo do Estado. Ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio e muito próximo da presidente Dilma Rousseff, Pimentel conseguiu apaziguar as disputas internas que tomaram conta do PT mineiro nos últimos anos e é, segundo dirigentes petistas, o primeiro nome do partido com chances reais de vencer as eleições no Estado.
‘Fora, Anastasia’
Um dos alvos principais das manifestações populares em Minas Gerais, o governador Antonio Anastasia (PSDB) - que não pode se reeleger e tem dificuldades para encontrar um candidato à sucessão - sentiu o abalo das ruas em sua base e vê legendas do campo “aecista” se aproximando do agora rival. Diferentemente de São Paulo, em Minas as manifestações populares contam com forte presença de entidades ligadas ao PT e ao PC do B, como o braço local da CUT, sindicatos de servidores públicos e entidades estudantis como a União Estadual dos Estudantes.
Nas assembleias populares semanais, que chegam a reunir até três mil pessoas no viaduto Santa Teresa, em Belo Horizonte, a presença de parlamentares do PT e do PC do B é constante. Nos discursos e até mesmo nas mesas deliberativas. Nessas ocasiões os discursos pedem “Fora, Lacerda” e “Fora, Anastasia”.
O caso mais emblemático de afastamento da base tucana é o PSD. O partido criado pelo ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab em 2011 integra o primeiro escalão do governo estadual, mas articula abertamente com o PT.
Caciques tucanos e petistas relatam que a bancada federal da sigla “kassabista” está fechada com Pimentel. Já na Assembleia Legislativa o cenário é diametralmente oposto e os parlamentares querem sacramentar o apoio a um candidato tucano.
O PT mineiro também conversa com PDT, PTB e PRB - todos da base aliada de Anastasia. Segundo um membro da executiva nacional do PDT, a posição do partido em Minas é simples: receberá o seu apoio quem oferecer um cargo majoritário na chapa. Ou seja: Senado ou o posto de vice na chapa do governador.
Embora tenha apresentado o nome do senador Clésio Andrade para a disputa ao governo mineiro, o PMDB do Estado caminha para o palanque de Pimentel. “Acredito em um entendimento com o PMDB”, diz Reginaldo Lopes, presidente do PT mineiro. Detalhe: em 2002, Clésio foi vice-governador na primeira gestão de Aécio Neves. A presidente Dilma Rousseff deu uma força a Pimentel ao nomear Antonio Andrade, presidente do PMDB de Minas Gerais, como ministro da Agricultura.
Trajetórias
“De 2002 para cá, o PT se dividiu e perdeu espaço. O Pimentel tinha um modo de fortalecer o Lula que era se aliando informalmente ao Aécio”, diz o deputado federal petista Nilmário Miranda. Ele disputou o governo do Estado em 2002 e 2006. O auge da radicalização das disputas internas aconteceu em 2009. O PED (Processo de Eleição Direta)daquele ano foi marcado pela cisão entre os grupos de Patrus Ananias e Pimentel. Segundo Nilmário, essa divisão é coisa do passado. “Hoje a unidade em torno da candidatura do Pimentel é total. Ninguém no PT vai disputar com ele. Pela primeira vez em 33 anos temos chances reais de vencer a eleição para o governo do Estado.”
O destino de Patrus Ananias em 2014 será a disputa por uma vaga na Câmara, o que abriria a vaga de senador para o PMDB. “As disputas no PT ficaram no passado”, reforça o deputado Reginaldo Lopes. Outro reduto historicamente aecista que está sendo “invadido” por Pimentel é a indústria. Como ministro, ele se aproximou de Olavo Machado, presidente da FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) e tem dialogado com representantes do setor que antes estavam sob a área de influência de Aécio.
Lulécio e Dilmasia
O cenário local será decisivo para o projeto de Aécio. Ele nunca conseguiu transferir aos presidenciáveis tucanos sua grande aprovação em Minas. O tucano, eleito senador com 7,5 milhões de votos num Estado que tem pouco mais de 10 milhões de eleitores, viu José Serra ser derrotado por Dilma Rousseff em 2010 por 58 45% a 41,45%. E esta foi a menor diferença das últimas três eleições presidenciais. Boa parte do eleitorado votou em Aécio e no PT ao mesmo tempo. O fenômeno foi batizado de “Lulécio” em 2006 e “Dilmasia” em 2010. “Agora o eleitor vai ter que fazer uma opção”, diz o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Carlos Ranulfo.