SAIBA TUDO

Assassinato de Kennedy completa 50 anos

Mito, eternamente jovem, bonito e vanguardista, continua intacto no coração dos americanos

France Press
22/11/2013 às 09:44.
Atualizado em 27/04/2022 às 17:40

Minutos de silêncio por todo o país e cerimônia em Dallas onde os sinos da cidade anunciarão o fim do momento: os Estados Unidos lembram nesta sexta-feira (22) a morte de John F. Kennedy, assassinado há 50 anos. Às 12h30 (16h30 de Brasília), um minuto de silêncio acompanhado do som dos sinos das igrejas de Dallas, no Texas, deve marcar o instante exato em que o 35º presidente dos Estados Unidos foi baleado, em 22 de novembro de 1963, por Lee Harvey Oswald (foto), segundo a investigação oficial da Comissão Warren. Oswald, um simpatizante comunista de 24 anos, foi morto dois dias depois por Jack Ruby, dono de uma boate em Dallas. Sua morte recobriu ainda mais de mistério as circunstâncias do atentado que chocou o mundo. O "mito Kennedy" - eternamente jovem, bonito e vanguardista - continua intacto no coração dos norte-americanos mesmo após um século. Três quartos da população do país colocam "JFK" no topo da lista dos líderes americanos modernos que entrarão para a História como "notáveis" - antes de Ronald Reagan e Bill Clinton - segundo pesquisa realizada pelo instituto Gallup, feita na semana passada. John F. Kennedy, filho de uma família rica e influente de Boston, foi o mais jovem presidente eleito e o primeiro católico, encarnando uma era cheia de esperanças para a geração do Pós-Guerra.Do seu mandato tragicamente interrompido, a História se recorda de sua queda de braço com a União Soviética durante a "Crise dos Mísseis", o vexame da Baía dos Porcos, o desembarque fracassado de anticastristas em Cuba e o lançamento do programa Apollo, que levou um americano à Lua. Seu "Ich bin ein Berliner" (do alemão, "Eu sou um berlinense") em uma Berlim então dividida entre Leste e Oeste foi marcante. A frase "Não pergunte o que seu país pode fazer para você, mas o que você pode fazer pelo seu país", dita durante sua posse, entrou para a memória mundial, e está imortalizada em uma placa perto de seu túmulo, visitado anualmente por cerca de 3 milhões de pessoas, no cemitério de Arlington. Mas o mito é também aquele de "Camelot", com a corte do Rei Artur levada à Casa Branca, com a esposa perfeita Jackie - jovem, linda e chique - e filhos pequenos brincando no Salão Oval. O momento do anúncio da morte do presidente e a imagem de Jackie, vestida em um tailleur Chanel cor-de-rosa, no momento de seu assassinato, fazem parte do imaginário coletivo. Dallas - conhecida como "cidade do ódio" por causa do atentado - realizará uma cerimônia sóbria de uma hora em Dealey Plaza, com leitura de trechos de discursos de Kennedy, preces e apresentações musicais da banda da Marinha, o corpo militar do presidente. Aviões militares devem sobrevoar a cidade. Uma missa deverá ocorrer na catedral de São Mateus, em Washington, enquanto uma reconstituição no Newseum, o Museu da Imprensa, "em tempo real", mostrará a cobertura televisiva do assassinato. Todos os locais que levam a marca Kennedy organizaram algum evento para lembrar a data Haverá minutos de silêncio e música na biblioteca presidencial JFK Library, de Boston; missas e bandeiras pretas no museu JFK de Hyannis, lugar onde a família presidencial passava suas férias; e preces na universidade JFK, de Pleasant Hill, na Califórnia. Um buquê de flores deverá ser colocado perto de seu busto no Kennedy Center, grande sala de espetáculos da capital, antes de um minuto de silêncio.O presidente Barack Obama depositou uma coroa de flores azuis e brancas no túmulo (foto) de seu antecessor. Algumas horas depois, durante uma cerimônia, ele saudou "o idealismo sóbrio e confiante em si mesmo" de JFK que "nos lembra que o poder de mudar o país pertence a nós mesmos". Há algumas semanas, dezenas de livros, filmes e documentários vêm sendo publicados e lançados nos Estados Unidos para explorar o mito em todas suas facetas.Teorias da conspiraçãoO ex-governador de Minnesota (norte dos Estados Unidos), autor do livro "Mataram o nosso presidente", acredita que Kennedy foi assassinado porque queria fazer as pazes com a União Soviética, e, assim, desafiar a influência do complexo militar-industrial construído após o fracasso do desembarque - apoiado pela CIA - da Baía dos Porcos, em Cuba, em 1961."Kennedy tinha mais inimigos dentro do governo do que entre os russos", assegura Ventura à AFP. "Imagine como o mundo seria diferente se Kennedy tivesse vivido, sem a Guerra do Vietnã e com o fim da Guerra Fria em 1965".Uma comissão liderada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal da época, Earl Warren, no entanto, concluiu que o atirador, Lee Harvey, Oswald agiu sozinho.Mas as teorias da conspiração continuam vivas no quinquagésimo aniversário do assassinato de "JFK".Em uma pesquisa Gallup publicada em 2003, apenas 19% dos americanos acreditam na teoria de um único atirador, quando mais de um terço aposta na teoria de um assassinato fomentado pela CIA, e outro terço a de um crime ligado à máfia, porque Kennedy havia ameaçado seus interesses.As suspeitas se concentram principalmente sobre como Oswald, um desertor da antiga União Soviética de vida agitada, conseguiu disparar sozinho contra o homem mais poderoso do mundo, a partir de um depósito de livros escolares, o Texas School Book Depository. E as chances de Oswald de se explicar publicamente foram reduzidas a zero, já que ele foi assassinado (foto) dois dias depois, em 24 de novembro 1963, por um ex-gerente de boate, Jack Ruby.Em muitos livros que evocam um suposto complô, os autores se perguntam se não havia outro atirador. A comissão parlamentar de 1979 concluiu que um elemento acústico dava crédito a esta tese, posteriormente contestada."Um vídeo feito por uma testemunha, Abraham Zapruder, alimentou uma outra teoria, a do "homem do guarda-chuva", que abriu seu objeto quando o dia estava muito bonito, algo que tem sido interpretado como o envio de um sinal para o atirador.Outra grande teoria foi desenvolvida por Oliver Stone em seu filme "JFK", de 1991, que sugere o envolvimento do sucessor de Kennedy, Lyndon Johnson. Oliver Stone explicou que queria criar um "contra-mito", o que levou o Congresso a publicar mais informações sobre o assassinato.A teoria oficial é contestada, inclusive fora dos Estados Unidos.Os filósofos britânico Bertrand Russell e francês Jean-Paul Sartre estimaram que a Comissão Warren, por sua natureza oficial, não divulgaria nenhuma tese envolvendo políticos.Na outra extremidade do espectro político, um dos primeiros manifestantes nos Estados Unidos foi Revilo P. Oliver, um estudante ligado à extrema-direita e para quem Kennedy era um fantoche da União Soviética, morto porque se tornou um problema para Moscou.Em um ensaio publicado pouco tempo depois do assassinato de Kennedy, o historiador Richard Hofstadter considerou que essas teorias eram parte de uma "tendência de paranoia na política americana".Para o ex-presidente Gerald Ford, um membro da Comissão Warren, não há provas que sustentem teorias da conspiração.A família Kennedy aprovou desde o início o relatório oficial, embora Robert F. Kennedy Jr (foto) tenha contestado a tese do homem sozinho.Advogado ambientalista que defende teorias controversas sobre vacinas, Kennedy Jr. disse que seu pai, ministro da Justiça na época e que também foi morto durante a campanha presidencial de 1968, considerava o trabalho da Comissão Warren "desleixado".De acordo com Lance DeHaven-Smith, um professor da Universidade da Flórida e autor de "A teoria da conspiração na America" , o termo " teoria da conspiração" é para descartar a ideia de que o governo pode cometer qualquer delito mesmo se complôs como Watergate ou Irangate tenham sido atualizados.O assassinato James Tague, um vendedor de automóveis que tinha 27 anos, não pretendia acompanhar o comboio do presidente, mas seu carro ficou preso no engarrafamento, perto de Dealey Plaza e da Elm Street, no momento em que o Lincoln com Kennedy a bordo passou pelo local. Una bala perdida o feriu levemente."Dei alguns passos, vi um carro com uma bandeira e lembrei que Kennedy viria à cidade naquele dia. Neste momento ouvi um barulho de tiro. Depois houve uma pausa e em seguida dois tiros, e algo raspou a minha bochecha direita. Um policial de moto parou perto da grama e duas pessoas falavam com ele. Eu cheguei no momento em que um homem dizia, soluçando: 'A cabeça explodiu, a cabeça explodiu'. 'A cabeça de quem?', perguntou o policial. 'Do presidente'".Pierce Allman, diretor de programação da rádio WFAA, que então tinha 29 anos, havia decidido observar o cortejo do presidente e da primeira-dama Jacqueline Kennedy."Estava de pé, diante do edifício do depósito de livros (foto). O cortejo chega e eu grito: 'Bem-vindo a Dallas, senhor presidente!' Jackie estava mais perto de mim. Usava aquele maravilhoso vestido rosado, saudava com a mão, JFK ajeitava uma mecha de cabelo"."O veículo fez a curva da Elm Street e depois ouvi um 'bum', um som muito forte, não o som seco de uma arma de fogo. Penso em uma bomba e depois 'bum', um segundo disparo.Kennedy age como se levasse as mãos ao pescoço, Jackie começa a gritar e então, um terceiro disparo. Kennedy se sobressalta e cai de lado".Hugh Aynesworth, que tinha 32 anos, jornalista da editoria de ciências no Dallas Morning News, estava muito contrariado por não participar na cobertura da visita presidencial. Perto do meio-dia, seguiu para a Dealey Plaza, decidido a participar por conta própria porque "nem todos os dias se vê um presidente". "Estava lotado, as pessoas estavam entusiasmadas. Jackie estava radiante, JFK saudava. De repente ouço o que me pareceu um cano de descarga de moto, depois outros dois disparos, e aí tive certeza que eram tidos. Vejo que as pessoas esbarram umas contra as outras, algumas fogem, outras se jogam no chão protegendo os filhos. Há gritos, choro, a histeria se espalha em poucos segundos. O veículo se afasta de mim".Para Phyllis Hall, uma enfermeira do Hospital Parkland, com 28 anos na época, a pausa do almoço foi muito diferente. Ela estava prestes a sair do centro médico quando recebeu a notícia."A supervisora nos disse que havia acontecido um acidente no cortejo presidencial e que e o carro com o presidente estava chegando. As portas se abrem imediatamente, reina o caos, há muitos gritos. Chega a maca com o governador do Texas, John Connally, gravemente ferido, depois a do presidente"."Um homem com uma arma na mão me disse 'precisamos de você'. Quando entro na sala número 1 da emergência, a senhora Kennedy (foto) está de pé ao lado da maca. Na minha opinião, o presidente já estava morto, tinha uma cor cinza azulado, com um contorno azul escuro ao redor da boca. Busco os sinais vitais, não encontro nenhum"."Os médicos chegam, fazem uma traqueostomia, colocam tubos. Não havia nada a fazer. Mais tarde um médico, neurocirurgião, afasta o cabelo, observa que faltam partes do cérebro, algumas estavam sobre Jackie, sobre os Connally, sobre a maca".O paciente "N°24740, Kennedy, John F.", registrado às 12h38, é declarado morto às 13h". Os passos de Lee OswaldMinutos depois de testemunhar o assassinato de John F. Kennedy, Pierce Allman cruza com um homem que deixa um depósito e parecia incrivelmente calmo.Esse homem era Lee Harvey Oswald, de 24 anos, o ex-marine americano que derrotou a então União Soviética, voltou para casa e teria matado o 35º presidente dos Estados Unidos na sexta-feira de 22 de novembro de 1963, em Dallas. Dois dias depois, esse mesmo homem seria abatido por Jack Ruby (foto).Pierce Allman, então com 29 anos, havia acabado de presenciar o assassinato do presidente no Dealey Plaza. "Falei para mim mesmo que eu precisava encontrar um telefone", contou à AFP o jornalista que era, na época, diretor dos programas da rádio WFAA/ABC."Subo as escadas do depósito de livros escolares do Texas. Pergunto a um cara na entrada onde tem um telefone. Ele me diz 'lá'. Eu respondo 'obrigado' e entro", afirmou Allman.Mais tarde, ele saberia que acabara de passar pelo assassino do presidente. "Ele estava muito calmo, não parecia apressado, não estava ofegante, não parecia nervoso de jeito nenhum", lembrou.Segundo conclusões da Comissão Warren, que investigou o caso, Lee Harvey Oswald havia acabado de matar JFK - três minutos antes -, atirando do quinto andar do depósito de livros, onde ele trabalhava como auxiliar há cinco semanas.O andar se transformou no "Museu do Sexto Nível de Dealey Plaza". Perto da janela dos tiros, pilhas de caixas, com a inscrição "Livros", foram reconstituídas em uma pequena área de alguns metros quadrados, em um espaço protegido por paredes de vidro.De lá, ele dá três tiros de fuzil, conta Stephen Fagin, curador adjunto do Museu, citando a investigação oficial, antes de descer por uma escada até o primeiro andar."Ele foi visto ali no máximo dois minutos depois, na cozinha dos funcionários", onde - também segundo testemunho do policial Marrion Baker - "ele não parecia nem ofegante, nem nervoso".Três minutos depois dos tiros, Oswald deixa o prédio, toma um ônibus e, então, um táxi, na direção do bairro Oak Cliff, onde morava. Da rua, ainda se vê a janela de seu quarto em uma casa de madeira.Ele coloca um casaco, pega um revólver e sai a pé. À 13h15, mata o policial J.D. Tippit que o parou na rua para interrogá-lo. Pelo menos 45 minutos já tinham se passado desde queKennedy havia sido atingido.Oswald busca abrigo um pouco mais longe, no Cinema Texas, que ainda mantém seu estilo anos 1960. Ele se senta no fundo da sala. A polícia entra, e ele muda de lugar. Ele é, então, cercado pelos agentes."Quando ele se levantou, eles (fontes policiais) me contaram que, naquela tarde, ele disse 'bom, está tudo acabado agora'", relata Hugh Aynesworth, que trabalhava como jornalista no "Dallas Morning News" e é autor de "November 22, 1963: Witness to History"."Mas não estava, porque ele sacou uma arma e tentou matar um policial", acrescentou.Os curiosos continuam a visitar o local, totalmente redecorado e sem qualquer menção histórica em particular.Oswald foi levado para a delegacia local. Lá, James Tague, um vendedor de carros de 27 anos, testemunha do assassinato do presidente, foi contar que ficou ligeiramente ferido pelo projetil de uma bala perdida."Dois homens entram com um terceiro, algemado", diz ele à AFP. "Um deles diz 'esse é o homem que matou o policial Oak Cliff'. À noite, pela televisão, eu vejo que o homem sentado no guichê do lado do meu era Lee Harvey Oswald".Ironia da história, Tague, apaixonado por história, acredita na inocência de Oswald e publica "LBJ and the Kennedy Killing". No livro, ele acusa o vice-presidente de Kennedy, Lyndon Johnson.A cela onde Oswald dorme a partir de sexta-feira ainda existe e continua intacta, em um andar desativado. Ele nega todas as acusações.No domingo, ele seria transferido (foto) para o presídio do condado, passando pela multidão de policiais e jornalistas do mundo inteiro.Um carro espera por ele no subsolo do prédio, que se tornou um estacionamento. Jack Ruby, um personagem local, "desce a rampa de acesso e atira no momento em que Oswald atravessa a porta", conta Paullus Armstrong, agente de Segurança do imóvel. "Tudo isso em menos de um minuto".Às 11h21, depois do tiro, "eu vejo Oswald colocar a mão na barriga e cair", lembra o jornalista Bob Huffaker, da estação KRLD/CBS, que consegue apenas repetir "atiraram no Oswald! Atiraram no Oswald!".Lee Oswald foi levado às pressas para o Hospital Parkland - o mesmo onde Kennedy esteve dois dias antes. O ex-marine morre quase duas horas mais tarde. Esse foi apenas o início de cinco décadas de dúvidas, polêmicas e teorias conspiratórias de todo tipo. A maldição dos Kennedy "A maldição dos Kennedy volta a atacar", era o título do The Independent no ano passado após o suicídio de uma nora de Robert "Bobby"Kennedy (foto), alimentando a ideia de que o clã mais conhecido dos Estados Unidos vive uma eterna tragédia grega.Como explicar que "cada vez que um Kennedy esteja para alcançar um objetivo ou uma ambição, seja condenado a pagar um alto preço?", se perguntou Edward Klein em seu livro "A Maldição dos Kennedy"."É preciso voltar à Grécia antiga, aos atreides, a figuras lendárias como Agamenon, Clitemnestra, Orestes e Electra, para encontrar uma família submetida a tal série de calamidades", escreveu.Desde o assassinato do presidente John F. Kennedy, há 50 anos, o clã teve que enfrentar outro homicídio, de seu irmão Bobby em 1968; a morte, em 1984, por overdose de David, filho de Bobby; e a morte em um acidente de esqui de Michael; outro filho de Bobby, em 1997.O drama mais recente foi o suicídio de Mary Richardson Kennedy, a segunda esposa de Bobby Junior, em maio de 2012.Mas foi a morte de John John (foto), filho de JFK e de Jackie Kennedy, na queda de um avião que ele mesmo pilotava, em 16 de julho de 1999, que fortaleceu o mito da maldição.Essa teoria já havia sido utilizada 30 anos antes pelo senador por Massachusetts, Ted Kennedy, irmão de JFK e de Bobby.Em um discurso televisionado, a então jovem esperança democrata falava do acidente do Oldsmobile que ele dirigia e que acabou caindo na água na ilha de Chappaquiddick, causando a morte de sua passageira Mary Jo Kopechne."Por acaso, uma horrível maldição se abateu sobre todos os Kennedy?", perguntou-se Ted Kennedy nesse discurso de 25 de julho de 1969, pouco mais de um ano depois do assassinato de Bobby.Alguns partidários da teoria da conspiração tentam encontrar alguma explicação nos astros e consultam o mapa astral do patriarca Joseph "Joe" Kennedy (foto), pai de JFK, de Bobby e Ted e de outros seis filhos.Outros atribuem os horrores desta família ao feitiço que um rabino lançou contra o influente e poderoso empresário, figura política do Partido Democrata, após uma discussão.Esses argumentos irritam Thomas Maier, jornalista e autor de "The Kennedys: America's Emerald Kings", um livro sobre o destino desta dinastia."Falar de maldição, como se um deus místico estivesse vingando algo que os Kennedy tenham feito, é absurdo e profundamente ofensivo para a sua religiosidade" católica, disse Maier à AFP.Ele ressaltou que, com Joe Kennedy, neto (foto) de Bobby, como representante no Congresso, o clã tem a sua "quarta geração (dedicada ao) serviço público"."Nem todas as famílias têm três senadores, um presidente, dois candidatos" à Presidência, considerou Larry Sabato, cientista político da Universidade da Virginia, em uma entrevista concedida à AFP."A teoria da maldição é muito popular porque temos observado muito esta família. Conhecemos cada um de seus membros", afirmou.O acidente de avião de John John em 1999, que também causou a morte de sua mulher, Carolyn Bessette, e de sua cunhada, Lauren, mergulhou em luto, não só os Kennedy, como também todo o país."Uma família e um país unidos na dor", era a manchete do jornal britânico The Guardian em sua edição de 23 de julho de 1999.Se a história destes filhos queridos dos Estados Unidos segue fascinando e intrigando, isso se deve ao fato de representarem "o encontro entre Hollywood e Washington", explicou Sabato.No fundo é, segundo o jornalista Laurence Leamer - grande conhecedor da dinastia - a história de "uma família de imigrantes. Algo a que todos aspiramos. Todos dizemos a nossos filhos: 'Você pode ser o presidente dos Estados Unidos', mesmo que realmente nós não acreditemos nisso".Mas, para os Kennedy, o assunto era diferente: "Eles foram criados sabendo que isso era muito possível", disse.Legado políticoJohn F. Kennedy deixou um legado político cheio de esperanças e ideias que continuam vivos, mas os historiadores destacam que, por trás do poder arrebatador do carismático presidente, o balanço de sua administração é modesto.Meio século depois, renova-se o escrutínio da imagem deixada por esse jovem presidente cheio de vida, ícone político e cultural de uma época em que o país recém saía da angústia do Pós-Guerra.Na eleição de 1960, JFK se apresentou como o homem da mudança. Para a geração de "baby-boomers" que ele inspirou, sua presidência encarna um período de grandes esperanças, mas é destruída subitamente em pleno voo. A morte prematura contribuiu para manter Kennedy como o símbolo da juventude perpétua, assim como da promessa nunca ofuscada.Para muitos, ele continua sendo o herói corajoso da Segunda Guerra Mundial, atlético e de sorriso sedutor, pai de família e (ao mesmo tempo) mulherengo, casado com uma das maiores referências de elegância do mundo. Ou ainda, como o líder que evita, no último momento, uma guerra nuclear durante a Crise dos Mísseis em Cuba.Quase todos os presidentes americanos que lhe sucederam invocaram seu legado em alguma oportunidade, destacando sua retórica e sedução. As teorias conspiratórias provocadas por seu assassinato, as revelações sobre suas célebres aventuras amorosas, ou sobre sua frágil saúde - quando exalava energia - , ajudaram e muito a forjar a aura mítica que se perpetuou.Segundo Leonard Steinhorn, que dirige uma cátedra sobre o legado político de Kennedy na American University, JFK foi o primeiro presidente que compreendeu e depois explorou com maestria o poder da televisão. "Kennedy ainda serve de modelo, no que diz respeito ao carisma, imponência, ou capacidade de liderança que se espera dos nossos presidentes", ressaltou.Outros historiadores valorizam o legado do 35º presidente americano de forma mais crítica, separando suas realizações dessa imagem fascinante que ele se empenhou em transmitir. O professor Jeffrey Engel, da Southern Methodist University, de Dallas, avalia, por exemplo, que "o impacto de John Kennedy sobre as gerações atuais é mínimo". Segundo ele, "é duro dizer isso, mas sua herança é a de uma presidência inconclusa".Embora se possa afirmar que Kennedy colocou na agenda temas-chave da década de 1960, como as reformas sociais, foi seu sucessor, Lyndon Johnson, quem as implantou.Os especialistas divergem sobre se JFK teria sido tão hábil politicamente quanto Johnson para por em prática essa agenda, ou para avançar tanto em matéria de direitos civis e de cobertura médica. Quando Kennedy foi assassinado, grande parte de suas iniciativas políticas ainda estava sendo discutida no Congresso, ressaltam os biógrafos. Tampouco será possível saber se Kennedy teria se atolado de forma tão profunda na Guerra do Vietnã."Aqueles que estudam sua presidência constatam que, embora tenha tido um grande talento e representasse uma enorme esperança para os americanos, suas conquistas reais em matéria legislativa e diplomática foram extremamente reduzidas", segundo Engel.Ironia da história, será Barack Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, que terá a honra de celebrar o 50º aniversário da morte de Kennedy. O democrata Obama se encontra em um momento especialmente crítico em seu mandato. Em 2008, sob o cujo slogan "Yes, We Can" ("Sim, nós podemos"), Obama apelou para a esperança e o idealismo de Kennedy em uma cerimônia na American University, junto com o irmão de JFK, o então senador Edward (Ted) Kennedy."Houve um tempo em que outro jovem candidato se apresentava como presidente e desafiava os Estados Unidos a ultrapassar uma nova fronteira", disse Ted Kennedy nesse evento. "O mesmo acontece com Barack Obama. Acendeu uma luz de esperança em nossa época, quando nos faz tanta falta", completou.Os apelos de Obama por mudança enfrentam barreiras partidárias em Washington e a dificuldade de transformar promessas políticas em atos. Kennedy, ao contrário, permanecerá congelado na História, sem ter vivido tempo suficiente para ver suas conquistas relativizadas pela perspectiva dos anos.As mulheres de JFKHouve a glamourosa e impecável Jackie (foto), a mãe Rose, que alimentou suas ambições políticas e presidenciais, e todas as outras: uma estrela de cinema, uma jovem estagiária, uma amante com ligações mafiosas e, sem dúvida, algumas profissionais do ramo.John F. Kennedy, assassinado em Dallas há 50 anos, teve uma relação no mínimo complexa com as mulheres - fosse com um trunfo em sua corrida à Casa Branca, fosse como um meio de saciar uma libido inesgotável."Isso dependia das mulheres", explica à AFP Larry Sabato, autor de um novo livro sobre a presidência Kennedy ("The Kennedy Half-Century: The Presidency, Assassination and Lasting Legacy of John F. Kennedy")."Ele podia ser charmoso e respeitoso com as mulheres de poder, aquelas que tinham influência", acrescenta o diretor do Centro de Política da Universidade da Virgínia. "Mas JFK também tinha um apetite sexual quase inesgotável e se diria hoje que ele tratava as jovens e lindas mulheres como objetos sexuais".A história de John Kennedy é inseparável da vida de Jackie, a jovem Jacqueline Bouvier (foto), de família aristocrática, nascida em julho de 1929, e que continua a ser sinônimo de sofisticação e elegância, mesmo vários anos após sua morte. A jornalista iniciante, de 24 anos, e o senador recém-eleito, de 36, casaram-se em 1953.Jackie encorajou seu marido a escrever a obra ganhadora do Prêmio Pulitzer "Profiles in Courage", no período em que se recuperava de uma cirurgia nas costas. Ela também fez campanha ao seu lado, na disputa pela presidência contra o republicano Richard Nixon.Na Casa Branca, Jackie patrocinou as artes e a cultura e organizou prestigiosas recepções, conciliando o papel de primeira-dama com o de mãe de um casal, Caroline (foto) e John Jr., também chamado de John-John.Nas horas que se seguiram ao assassinato de JFK, Jackie, que estava a seu lado na limusine presidencial em Dallas, recusou-se a tirar seu tailleur Chanel rosa manchado de sangue. "Quero que vejam o que eles fizeram com Jack", disse ela na época.Jackie Kennedy, que se casou pela segunda vez com o bilionário grego Aristóteles Onassis, faleceu em 1994, aos 64 anos.Em público, os Kennedy representavam a imagem do perfeito casal americano moderno. Na vida privada, não era bem assim. Seu 'affair' com Marilyn Monroe é o mais conhecido, e entrou para a história o "Happy Birthday, Mr. President" cantado aos sussurros pela estrela de cinema em um jantar de gala de arrecadação de fundos para o Partido Democrata, em 1962. Jackie não apenas sabia do caso, como convidou Marilyn a tomar seu lugar e ficar com "todos os problemas", segundo revelações do livro "These Precious Few Days: The Final Year of Jack with Jackie", lançado este ano pelo jornalista Christopher Anderson.Entre os 'problemas', estaria Judith Campbell Exner, que garante ter tido um caso de dois anos com Kennedy, que coincidiu com um relacionamento com uma 'rainha do submundo' de Chicago. A história de Judith, que faleceu em 1999, aos 65, é considerada crível pelos historiadores.Também teria havido Mimi Beardsley, uma estagiária de 19 anos e sua amante por 18 meses, como ela mesma relata em suas memórias. No livro "Once Upon a Secret: My Affair with President John F. Kennedy and its Aftermath", lançado em 2012, ela diz ter perdido a virgindade na cama de Jackie e conta as brincadeiras com os patinhos de plástico na banheira presidencial."Não me arrependo do que fiz", escreve. "Eu era jovem, apaixonada e não posso mudar nada do que aconteceu", resume.Não se sabe ao certo quantas prostitutas passaram pela Casa Branca, mas o número teria sido significativo, levando o Serviço Secreto temer que o presidente fosse vítima de espionagem, ou chantagem, em plena Guerra Fria."Ele tinha uma tendência a se cercar de damas que, algumas vezes, eram um pouco preocupantes", admitiu Anthony Sherman, então agente do Serviço Secreto, em um documentário transmitido pela ABC em 1997.Essas mulheres "eram, de fato, de comportamento duvidoso", declarou William McIntyre, outro ex-agente do Serviço secreto, ao mesmo programa."Era de uma imprudência louca", corrobora Sabato. "JFK não parou de colocar sua presidência e sua família em risco. É quase certo que as agências estrangeiras de inteligência tinham algum conhecimento desse padrão de comportamento", completou.A história familiar se repetia. Assim como Jackie, Rose Kennedy (foto) já havia fechado os olhos para a relação extraconjugal de seu marido, Joseph Kennedy, pai de John, por três anos, com a estrela dos anos 1920 Gloria Swanson. Católica devota, Rose faleceu em 1995, aos 104, sobrevivendo a quatro de seus nove filhos.Os principais momentos da vida de JFK- 29 de maio de 1917: Nasce em Brookline, perto de Boston (Massachusetts), John Fitzgerald Kennedy, o segundo dos nove filhos do empresário Joseph Patrick Kennedy e de Rose Fitzgerald, filha do prefeito de Boston. A família, muito rica, tem sua origem em imigrantes católicos irlandeses.- 1936-1940: "Jack", como rapidamente passou a ser chamado pela família, estuda em Harvard. Faz várias viagens para a Grã-Bretanha, onde seu pai foi embaixador a partir de dezembro de 1937.- 1941-1945: Apesar das dores nas costas crônicas - sofria da doença de Addison -, JFK se alista na Marinha e participa na Segunda Guerra Mundial no Pacífico. Em agosto de 1943, o então tenente Kennedy salva um colega gravemente queimado durante o naufrágio de um navio torpedeiro, atacado por um destróieir japonês. JFK recebe baixa no início de 1945. Seu irmão mais velho, Joe, destinado pela família à política, morre em missão de combate em agosto de 1944. Jack deve assumir o posto.- 1946: Eleito pela primeira vez como representante democrata de Massachusetts, reeleito em 1948 e 1950.- 1952: Eleito para o Senado, reeleito em 1958.- Setembro de 1953: Aos 36 anos se casa com Jacqueline Bouvier, de 24 anos (1924-1994), uma jovem repórter do jornal The Washington Times-Herald. A filha Caroline nasce em 27 de novembro de 1957. No mesmo ano recebe o Prêmio Pulitzer por um livro de perfis de políticos. Em 1960 vence as primárias democratas.- Janeiro de 1961: JFK toma posse como 35º presidente dos Estados Unidos depois de derrotar por pequena margem Richard Nixon, o candidato republicano. Ele se torna o presidente mais jovem bem dos Estados Unidos e o primeiro católico. Seu filho "John-John" nasceu pouco antes, em 25 de novembro de 1960.- Março de 1961: Cria o "Peace Corps" (Corpo de Paz), uma agência de voluntários em países em desenvolvimento.- Abril de 1961: Autoriza o desembarque de cubanos contrários a Fidel Castro na Baía dos Porcos em Cuba, que termina em fracasso.- Maio de 1961: Lança o programa espacial Apolo, cujo objetivo é o envio de um americano à Lua. Aumenta o número de tropas, equipes e assessores militares no Vietnã.- Outubro de 1962: Auge da tensão entre Estados Unidos e União Soviética durante a "crise dos mísseis", quando os soviéticos tentam instalar armamento em Cuba. Após um acordo, Nikita Khrushchov, secretário-geral do Partido Comunista da URSS, aceita retirar o arsenal, mas em troca Washington abandona a opção militar contra Havana.- 11 de junho de 1963: Pronuncia um discurso no qual se compromete ativamente na luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.- 26 de junho de 1963: Declara apoio aos moradores de Berlim Ocidental com um discurso que contém a frase "Ich bin ein Berliner" ( "Eu sou um berlinense") na parte ocidental de Berlim.- 22 de novembro de 1963: Assassinado em Dallas (Texas) e enterrado três dias depois no cemitério militar de Arlington, perto de Washington.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por