SOROCABA

Açougueiro confessa matar morador de rua

Depois do crime, o açougueiro, de fala mansa, disse à polícia que não espera mais nada da vida

Eloy de Oliveira
23/06/2013 às 16:43.
Atualizado em 27/04/2022 às 14:55

O açougueiro desempregado Raimundo Barbosa Barros, de 37 anos, confessou à polícia de Sorocaba, na sexta-feira (21), ter assassinado um morador de rua identificado apenas pelo apelido de Nariga.

No depoimento, ele disse que a vítima apareceu drogada às 6h do dia crime, o domingo (16), em um galpão desativado da rua Venezuela, em frente à garagem da empresa de ônibus São João, na zona leste da cidade.

Raimundo vivia no local com outras quatro pessoas, uma mulher com quem tem relacionamento amoroso, outro casal nas mesmas condições e um senhor. O açougueiro coleta recicláveis. Os cinco dividem e dão comida a drogados.

O ambiente não tem higiene. Há até mesmo fezes pelo chão. As pessoas convivem em meio a sofás, colchões e utensílios domésticos achados na rua. O banho é de caneca e a privacidade, por meio de cortinas improvisadas.

Os usuários de drogas, como Nariga, aparecem porque tem comida. “Não se tem como negar comida para ninguém”, disse o açougueiro. Normalmente, comem e vão embora. Uns voltam, outros não. Vêm sempre gente nova.

Por volta de 14h, quando já havia consumido mais crack e álcool, contou Raimundo no depoimento, Nariga começou a “zoar as panelas. Ele jogava barro na comida”. Foi aí que começou o desentendimento.

Desnorteado pelo efeito das drogas, Nariga teria se armado de uma faca de cozinha e partido para cima do açougueiro. Com um pedaço de madeira, Raimundo tirou a faca das mãos da vítima com golpes nos braços dela.

Mesmo sem a faca, Nariga teria partido para a luta corporal com o açougueiro. Os outros quatro ocupantes do local assistiram como se a luta acontecesse em uma tevê. Não interferiam, mas mantinham-se atentos.

Nariga foi derrubado. Bateu a cabeça em uma pia de cozinha encostada em um canto. A peça partiu-se com o impacto. Raimundo não parou de bater. “Dei uma paulada atrás da outra como se descarregasse um revólver”, disse.

Só parou mesmo quando viu o sangue sair pelo nariz e pelas orelhas. Depois, deixou o corpo no mesmo lugar e sentou-se para pensar. O açougueiro disse que não tinha o que pensar, mas ficou ali parado olhando o nada.

As outras pessoas apanharam o sarrafo usado na briga e o colocaram no fogo para ajudar a aquecer a comida. Só por volta de 22h, contou o açougueiro, com a ajuda dos outros, ele colocou o corpo em um saco de lixo.

Tomou apenas o cuidado de envolvê-lo antes em um cobertor. Arrastou o saco para os fundos do galpão. Dali arremessou-o para os fundos também de uma oficina mecânica, que funciona ao lado e estava fechada.

No dia seguinte, os mecânicos acharam estranho que o cão da oficina ficasse próximo do local insistentemente. Foram ver e descobriram o corpo. A baixa temperatura impediu que a decomposição fosse acelerada.

Chamada, a polícia investigou e descobriu o crime só na sexta. Encontrou a blusa e o tênis usados pelo açougueiro, ainda sujos de sangue, e a faca da briga. Sem alternativa, ele sentou-se novamente e contou o que se passara.

O morador de rua assassinado era branco, parcialmente calvo, tinha aproximadamente 1,70 metro de altura, era magro, usava tatuagem do Corinthians em um dos braços e a figura de Jesus Cristo no outro.

Foi encontrado com sapato marrom, meias e bermuda jeans. Não portava documentos. Ninguém sabe o seu nome. Apresentava afundamento craniano e lesões nos dois pulsos. Os sinais são de que ele tenha tentado se defender.

De fala mansa, o açougueiro disse que não espera mais nada da vida. Natural do Vale da Ribeira, contou ter vivido com uma sorocabana em São Paulo. Mudou-se para a cidade com ela. Separaram-se há dois anos.

Em sua ficha policial constam antecedentes por furto e tráfico de drogas. Estava no galpão do crime havia cinco meses. Foi lá que conheceu a sua atual companheira. Ela não comenta nada. Assim como os outros três.

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