PROTESTO

300 mil pedem a renúncia do presidente da Ucrânia

Manifestantes o acusam de "vender" o país à Rússia por rejeitar acordo de associação com a UE

Da France Press
08/12/2013 às 16:56.
Atualizado em 27/04/2022 às 17:50

Centenas de milhares de ucranianos favoráveis à União Europeia protestaram neste domingo (8) em Kiev pedindo a renúncia do presidente Viktor Yanukovich, acusado de "vender" a Ucrânia à Rússia após sua rejeição em assinar um acordo de associação com a UE. Entre 250.000 e 300.000 pessoas lotaram a Praça da Independência, o local emblemático da Revolução Laranja de 2004, assim como as ruas próximas, aos gritos de "Renúncia!", constatou a AFP. "Estamos aqui pelo futuro europeu da Ucrânia, por nossos filhos e netos. Queremos que a justiça reine em todo o mundo e que o poder deixe de roubar", declarou um aposentado de 52 anos, Viktor Melnichuk. Segundo os organizadores, o número de manifestantes se aproximou de um milhão, enquanto a polícia o estimou em 60.000 opositores e em 15.000 os presentes em uma manifestação de apoio a Yanukovich em frente ao Parlamento. Arseni Yatseniuk, um dos líderes da oposição, convocou os manifestantes a aumentarem a contestação e a bloquearem o bairro governamental. As pessoas presentes no protesto montaram várias barracas perto da sede do governo e começaram a erguer barricadas com cestas de flores, segundo imagens divulgadas pela televisão ucraniana. Cerca de trinta manifestantes com os rostos cobertos derrubaram uma estátua de Lênin de 3,5 metros situada na praça central de Kiev, indicou a Polícia. Pouco depois da grande manifestação, os Serviços Especiais Ucranianos (SBU) anunciaram a abertura de uma investigação por tentativa de tomada de poder após as ações ilegais de alguns políticos, sem citar quais, que podem se condenados a até 10 anos de prisão. Europa ou a ditaduraJá a ex-primeira-ministra ucraniana Yulia Timoshenko pediu a renúncia imediata de Yanukovich, em uma declaração lida em um comício em Kiev por sua filha. "Nosso objetivo é a renúncia imediata de Yanukovich como presidente da Ucrânia", declarou Yevguenia Timoshenko citando sua mãe em uma mensagem enviada da prisão. "Hoje podemos decidir entre afundarmos em uma ditadura corrupta ou a volta ao lar, na Europa", acrescentou. Também neste domingo, o presidente ucraniano e seu colega da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, decidiram que a chefe da diplomacia europeia participará na semana que vem de uma missão de conciliação em Kiev com Yanukovich, anunciaram em um comunicado. "Foi acertado o princípio da missão de Catherine Ashton, mas a data ainda não foi marcada. A viagem está prevista para meados da semana", disse à AFP uma fonte ligada às negociações, indicando que o futuro de Timoshenko será uma dos temas abordados por Ashton. O acordo foi alcançado durante uma conversa por telefone, na qual Barroso "insistiu na necessidade de se encontrar uma solução política para as tensões na Ucrânia, iniciando um diálogo com a oposição e a sociedade civil", indica o texto. No domingo passado, entre 200.000 e 500.000 pessoas protestaram na praça depois de terem sido desalojadas à força dois dias antes pela polícia, em uma operação que deixou dezenas de feridos, muitos deles estudantes. No sábado, cerca de mil pessoas protestaram no mesmo local, também conhecido pelo nome de Maidan. A rejeição do presidente em assinar um acordo de associação com a União Europeia (UE) negociado durante meses mergulhou este país de 46 milhões de habitantes em uma crise política sem precedentes desde a Revolução Laranja, que levou os pró-europeus ao poder. A tensão aumentou após uma reunião entre Yanukovich e o presidente russo, Vladimir Putin, na sexta-feira, para discutir um acordo de associação estratégica entre os dois países. Os europeus acusam a Rússia de ter exercido pressões econômicas e ameaças inaceitáveis sobre a Ucrânia, que atravessa uma crise econômica e financeira, para que o país renuncie à associação com a UE. Já a oposição denunciou no sábado a intenção de Yanukovich de assinar este acordo com o objetivo de fazer a Ucrânia aderir à união aduaneira de repúblicas soviéticas liderada por Moscou. Os rumores desse possível acordo com a Rússia foram recebidos com preocupação nas fileiras da oposição, que protesta há duas semanas nas ruas. O primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, classificou as informações de "mentiras e provocações". Já o ex-boxeador Vitali Klitshko, outro líder da oposição, convocou uma greve geral. "Estou certo de que somos capazes de derrubar o poder", declarou. A oposição pede a organização de eleições antecipadas e a punição dos responsáveis pela violência policial, assim como a libertação das pessoas detidas por distúrbios. A Ucrânia está há mais de um ano em recessão e tem um enorme déficit público que pode levar o país à quebra, segundo analistas e investidores, que acreditam que Moscou pode baixar o preço do gás que vende ao país se o governo ucraniano desistir de se aproximar da Europa.

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