SALÃO DE HUMOR

Há projetos, mas falta injeção de mais recursos

Uma visão mais apurada, porém, mostra que chegou a hora de ir além

José Ricardo Ferreira
20/09/2018 às 09:59.
Atualizado em 28/04/2022 às 01:48

Quinta-feira, 20 de setembro de 2018 O 45º Salão Internacional de Humor de Piracicaba está aberto ao público desde o último dia 25 de agosto e se estenderá até o dia 14 de outubro, no Parque Engenho Central. Trata-se de um evento que se destaca como um dos maiores do mundo desse gênero. A cidade, graças a ele, é tida como a “Capital Mundial do Humor”, pois reúne trabalhos de inúmeros países. Uma visão mais apurada do Salão, porém, mostra que chegou a hora de ir além. Dentre as indagações, o que é preciso fazer para que o Salão incentive ainda mais a pesquisa e a produção cultural dentro desse segmento e se torne um espaço de criação durante o evento? Como deixar à disposição do visitante novas tecnologias para que ele possa interagir? Como reunir, num mesmo espaço durante o evento, possibilidades de outras artes como o Cinema, a Dança, a Literatura, a Música e o Teatro? Como unir a Mostra e a Educação? Tudo isso, dentro de uma perspectiva que não atrapalhe, mas agregue o principal motivo do Salão: a Exposição dos trabalhos. A secretária municipal da Ação Cultural e Turismo, Rosângela Rizzolo Camolese, dsse que, para que o Salão avance nas perspectivas culturais, o investimento precisaria ser alto. “Temos conversado com o Conselho Consultivo sobre esse assunto. Já faz três anos que estamos conversando, inclusive estamos com alguns proponentes que estão elaborando projetos junto às leis de incentivo à cultura por meio de renúncia fiscal para que possamos evoluir”, disse a secretária. Em sua análise, o “cobertor é curto” (recursos limitados) e a Prefeitura tem um limite dentro do seu orçamento. “Por isso que precisamos de parcerias e por isso estamos conversando, pois a interatividade é muito importante, até porque já temos o Salãozinho do Humor e essas parcerias que fazemos com a Diretoria Regional de Ensino e secretarias municipais de Educação de Piracicaba e região e até de outros Estados nos permite que nos enviem seus trabalhos e por isso saltamos de duzentos e poucos trabalhos para mais de quatro mil, nos últimos cinco anos. É um salto significativo”, declarou. A secretária ainda lembrou que o trabalho também tem sido junto aos professores ao longo dos últimos oito anos com a qualificação de mais de 200 docentes para que entendam a linguagem da Charge e dos Quadrinhos. “Uma coisa é você mandar para as escolas a ficha de inscrição e outra é capacitar o professor para estimular ainda mais alunos, não apenas aqueles que possuem talentos, mas também aqueles que gostam de desenhar, mas que ainda não descobriram o seu talento a enviarem os trabalhos”, explicou. Camolese explicou, ainda, que seria interessante ter mais salas para atividades durante o ano todo e também no período do Salão, pois os estudantes viriam com os pais para observar os trabalhos selecionados no Salãozinho, os trabalhos da mostra principal, e também interagir com algumas atividades, com novas tecnologias. “Esse é o nosso maior desejo. Mas, para o último Orçamento, duas salas precisávamos de R$ 600 mil. Todos os equipamentos são caros. Precisamos de monitores, microfones, música e também de pessoas que entendam disso profissionalmente. Estamos conversando com algumas Associações. A própria Associação dos Amigos do Salão de Humor de Piracicaba (AHA) é uma potencial proponente para fazer esses projetos e em médio prazo teremos novidades”, declarou a secretária. Iniciativas Para o professor Adolpho Queiroz, presidente da AHA, faltam algumas iniciativas para deixar o Salão de Humor mais atrativo. Dentre elas, disse ele, um cuidado maior com a curadoria da montagem da exposição, falta uma música ambiente inspirada talvez nos desenhos animados, falta uma equipe de monitores que seja capaz de esclarecer a pessoa mais leiga sobre o sentido daquele cartum. “Então, nós temos muita consciência do que falta. E falta sobretudo o dinheiro (risos) para você ter tecnologia. A cidade tem ajudado bastante. A Prefeitura tem tido um papel fundamental na organização do Salão. O problema é que o Salão cresceu, as demandas aumentaram bastante e nós não estamos conseguindo deslanchar em um grande projeto de captação de recursos. Estamos por meio da AHA iniciando conversas com escritórios de captação de recursos em São Paulo e na região para ver se para o ano que vem ou em 2020 seja possível um aporte maior especialmente na questão da curadoria da exposição . É um sonho antigo dos organizadores do Salão fazer uma mexida na organização, no jeito de mostrar o Salão. Isso incluiria a parte tecnológica. Temos ideias, mas não temos dinheiro para executar essas ideias. Mas estamos em busca”, explicou. Alento Para o cartunista Erasmo Spadotto, o Salão de Humor precisa mesmo de um alento, mas os recursos para isso precisariam ser maiores. Ele explicou que “a verba é curta para fazer algo mais moderno”. Erasmo disse que nos últimos anos já ocorreram alguns avanços importantes como a Feira dos Quadrinhos, que chegou a sua segunda edição. Diretor do Centro Nacional de Documentação, Pesquisa e Divulgação de Humor de Piracicaba, Erasmo entende que o Salão não pode, mesmo com a implantação de tecnologias, perder suas características inerentes. Mas seria interessante a implantação de trabalhos digitalizados onde o público manipule e tenha outros trabalhos na tela e a história do artista em foco. Na análise dele, as mudanças são irreversíveis, devem acontecer, mas, aos poucos, devido, principalmente, à falta de mais verbas. “Hoje os trabalhos chegam 99% digitalizados no Salão. Isso levará que a mostra logo mude de formato”. Erasmo espera que, em breve, outras formas de humor estejam no Salão. Ele citou os famosos memes, que são montagens de imagens muito divertidas nas redes sociais. E também contar com o humor verbal, não apenas gráfico. As mudanças são “automáticas, não tem como evitar”, frisou. “No ano passado uma das campeãs foi uma caricatura impressa em 3D”, disse. “O artista tem que se atualizar”.

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