Vila Sônia

Projeto Meninos de Brasil pede ajuda

Grupo vence Taça das Favelas, mas carece de apoio e material

José Ricardo Ferreira
03/10/2023 às 01:24.
Atualizado em 03/10/2023 às 01:24
Garotos bom de bola Equipe Sub-17 busca classificação nesta manhã na capital paulista (Divulgação)

Garotos bom de bola Equipe Sub-17 busca classificação nesta manhã na capital paulista (Divulgação)

Com muita dedicação e poucos recursos, um grupo de esportistas mantém na Vila Sônia o projeto de futebol Associação Academia Desportiva Meninos de Brasil.

O projeto surgiu em 2009 longe de Piracicaba, na cidade de Segunda Jerusalém, no Peru, e em 2013 aportou na Vila Sônia onde em um campo varzeano André Fábio de Oliveira, 47, treinador e ex-atleta profissional, e a peruana Idelsa Burga Campos, 41, fisioterapeuta e professora ajudam a manter vivos os sonhos de meninos e meninas.

O projeto cuida do campo, que é público, para mantê-lo em ordem servindo para treinos e jogos.

São 50 inscritos no projeto que reúne as categorias Sub- 10, Sub-13, Sub-15, Sub-17 e Sub-20. Os treinos acontecem de segunda a sexta-feira. Aos sábados e domingos as equipes disputam jogos na cidade e na região.

O desejo de André e sua esposa Idelsa é que um dia o projeto seja totalmente gratuito, o que não é possível neste momento. “Hoje a nossa sobrevivência tanto no projeto quanto na vida pessoal se faz com contribuição de alguns pais e amigos”, disse ele. “Nosso projeto representa a comunidade da Vila Sônia onde trabalhamos há 11 anos na área do esporte e cultura”, frisou.

Uniformes, bolas, redes, enfim equipamentos esportivos são bancados pelas contribuições. “Corremos atrás. Às vezes ganhamos doações que são bem poucas e às vezes deixamos de comprar nossa cesta básica e utilizamos o dinheiro, para o bem dos meninos”, diz o treinador.
Infelizmente, dizem os organizadores do projeto, não há recursos para dar lanches aos atletas em dias de treinos.

André reforça que o projeto surgiu no Peru usando o futebol para direcionar e orientar meninos e meninas, formar pessoas de bem e profissionais de respeito. “Nosso lema: Para se formar um atleta, primeiro tem que se formar um homem de bem”, reforça.

Ele lembra que a participação no projeto é livre desde que haja disciplina em relação às normas. É preciso, por exemplo, estar matriculado e com boas notas escolares, respeitar os pais e amigos.

Grande acontecimento
Depois de anos de muito esforço, um grande acontecimento esportivo ocorreu para o projeto. Um dos times foi o campeão da Taça das Favelas 2023, que foi realizada pela primeira vez em Piracicaba pela CUFA (Central Única de Favelas). O time campeão foi o Sub-17 e com isso ganhou o direito de competir na etapa estadual, em São Paulo.

A estreia foi domingo, às 8h, contra o selecionado da Favela Dutra, de Guarulhos, na Vila Manchester, em São Paulo. Os jogos desta fase são eliminatórios.

São oito favelas que se enfrentam em jogo único e os ganhadores seguem na competição voltando a jogar no dia 7 de outubro quando os ganhadores terão a oportunidade de jogar a grande final estadual com objetivo chegar à etapa nacional contra equipes do Rio de Janeiro, Recife entre outras favelas.

Para se classificar, a equipe da Vila Sônia fez seis jogos com 100% de aproveitamento. Na final a equipe bateu o complexo do Industrial por 2 a 1, com dois gols de Gabriel Henrique.
O elenco conta com os seguintes jogadores: John Everton goleiro (eleito o melhor goleiro do campeonato); Davi Oliveira (lateral-direito - foi eleito a revelação da competição); Victor da Silva (zagueiro); David Mota (zagueiro); Samuel Davi (zagueiro); Marcos Paulo, (zagueiro); Alexandre (lateral-esquerdo); James Roberto (meia); Gabriel Henrique (centroavante); Samuel da Silva (meia); Flávio Alexandre (atacante); José Roberto (atacante); Murilo Vitoriano (volante); Yago Barreto (volante); Luiz (lateral-direito); Marcos (zagueiro); Caíque Juan (lateral-esquerdo); Tomas Jefferson (atacante); Douglas (meia), Luís Miguel (atacante); Júlio Vitória (atacante); Miguel Rocha (zagueiro); Gustavo Richard (goleiro); João Vitor (volante).

Superação

O estudante Davi Oliveira da Silva, 16, é lateral-direito do Sub-17, e estará em campo hoje na partida em São Paulo. Ele foi eleito a revelação da Taça das Favelas em Piracicaba. Davi faz parte do projeto da associação.

O garoto conta que ser jogador de futebol é um sonho da infância e participar da associação tornou isso uma realidade. Um amigo apresentou o projeto a ele há seis anos.

Sua grande experiência foi começar a jogar em gramados pois antes atuava em campos de areia ou terrão. Davi tem uma deficiência nos braços, mas isso nunca o limitou para o futebol. “Nunca desisti e continuei frequentando os treinos e jogos”, disse.

“Toda vez que eu ia para a escola de ônibus, observava um campo de grama e dizia aos meus pais que era ali que eu queria estar. Minha mãe então pediu ao meu padrasto para verificar o projeto e foi assim que conheci o André e a professora Idelsa. O time me recebeu super bem, e embora não tenha começado como titular, treinei incansavelmente todos os dias até conquistar meu lugar no time. Marquei um gol de falta contra a Caterpillar e converti diversos pênaltis decisivos. Minha dedicação me rendeu o troféu de jogador revelação na primeira edição da Taça das Favelas em Piracicaba”, contou Davi.

“Valorizamos o que o Davi faz. Ele é um dos principais jogadores, nosso titular”, disse o treinador André. 

Ajuda
O projeto precisa de ajuda para se manter e aumentar suas ações sócio-esportivas. “Precisamos de toda forma de auxílio, desde os materiais esportivos até o transporte e alimentação”, diz a fisioterapeuta. 
Bolas novas, uniformes, chuteiras, lanches, água, alimentação, medicamentos, transporte são os itens fundamentais para quaisquer projetos esportivos. “Muitas bolas já estão furadas, sem condição para treino”, disse o treinador.
André e Idelsa reforçam que a sociedade piracicabana olhe com carinho para o projeto. “Que nos olhem um pouco mais com atenção porque hoje somos uma comunidade que não somente no esporte, mas em toda área está esquecida”, disse ele.
A ideia, conta o treinador, é unir forças para manter o projeto. “Somos pessoas de bem e também votamos, também pagamos impostos, também somos trabalhadores e essas crianças são o futuro nosso”, declarou ele.
O projeto, disse o treinador, representa a cidade. “Mas sozinhos não construímos nada”, lembra a fisioterapeuta. Não é futebol somente, mas vida pessoal em busca de ajudar a formar cidadãos, segundo aponta André.
Para quem se interessar em apoiar o projeto: whatsapp - 19 9 9459-4223 (André); https://.facebook.com/meninosdebrasil.adm?mibextid=ZbWKwL.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por