Áudio de falso confisco se espalha no WhatsApp

Às vésperas da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados, no próximo domingo (17), voltou a circular pelo WhatsApp uma falsa mensagem de que o governo federal estaria prestes a confiscar, até o final do mês, os recursos que os brasileiros mantêm na poupança. Apavorados com a mensagem recebida, leitores do Correio procuraram o jornal em busca de mais informações, questionando a veracidade do áudio. Muitos disseram estar em pânico e contaram que iriam retirar o dinheiro de suas contas. Muita gente repassou a mensagem para mais contatos, criando uma rede incontrolável da falsas informações. No áudio, uma mulher diz teria recebido uma suposta mensagem de uma amiga do exterior, alertando que a presidente estaria pretendendo fazer um "saqueamento" (roubo) nos bancos. O tom de voz da mulher na mensagem demonstra que ela está bastante ansiosa e apreensiva. Em seguida, ela explica que o "saqueamento" seria um suposto confisco do dinheiro aplicado nas cadernetas, incluindo salários (que normalmente são depositados em conta-corrente, não em poupança). Ainda durante o falso alerta, a mulher diz que a informação teria sido passada por uma suposta chefe do Banco do Brasil nos Estados Unidos. O áudio termina com a informação - também falsa - de que muito armamento teria sido descoberto na Floresta Amazônica, criando a ameaça de uma guerra Civil no Brasil. Esse áudio já invadiu as redes sociais no começo do ano passado. Os boatos chegaram até o Instagram, quando uma imagem da Caixa Econômica Federal afirmando que o banco estaria congelando as contas Poupança por motivo econômico viralizou. Na época, o Ministério da Fazenda desmentiu as informações e, o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou que a Polícia Federal apurasse a origem dos boatos. Ele fez isso após a Caixa Econômica Federal pedir auxílio. Mesmo assim, as mensagens voltaram a circular. Trote digital Para especialistas em comportamento digital, a disseminação de informações erradas é um comportamento inerente do ser humano. Antigamente, era comum passar trotes telefônicos. Agora com a internet, aplicativos e redes sociais os trotes se sofisticaram e são passados cada vez mais rapidamente e chegam a milhões de pessoas em poucas horas. Um estudo da empresa Esentia Inteligência, especializada em monitoramento de informações na internet, intitulada de "A velocidade da disseminação" constatou que uma mensagem com alto poder viral leva uma hora e sete minutos para atingir um milhão de pessoas no WhatsApp. Se a mensagem for uma imagem ou vídeo esse tempo cai para 48 minutos. "A disseminação é muito rápida e acontece porque o brasileiro não tem o costume de checar informações. Eles acreditam no que chegam a ele, já que foi enviado por um parente, um amigo. Somando todo o momento que estamos vivendo com uma crise política e econômica, as informações mentirosas, os trotes produzidos por alguém disseminam de maneira gigantesca", analisou o diretor executivo da empresa Gustavo Ramos. O citado na matéria é apenas um de dezenas de áudios que estão sendo disseminados nesses últimos dias pré-votação de impeachment. "Tem áudio até envolvendo uma jornalista da Globo News. É muita má fé. Ou então são áudios que aumentam fatos, e aumentam para mentira gerando pânico em quem não costuma ler, procurar se informar. Infelizmente o brasileiro não tem o costume da leitura. Simplesmente recebe, lê, acredita e repassa pra lista de contatos", afirmou. O especialista lembrou que a disseminar informações mentirosas pode gerar processo. "Tem que checar informações. Ante de repassar checa porque é seu nome que está levando a informação. A pessoa acaba cúmplice de uma informação que denigre alguém. Existe uma responsabilidade quando você passa algo pra frente", terminou. O que diz um dos áudios: “Rose, uma pessoa dos Estados Unidos me avisou […] que é pra tirar todo o dinheiro do banco! Quem tem poupança, é pra tirar, porque dia 18 vai ter o saqueamento dos bancos[…] A Dilma vai saquear todos os bancos, até [conta] salário! […] é a chefe do Banco do Brasil dos Estados Unidos que avisou pra ela, pra ela avisar pro povo brasileiro[…] pra abastecer bastante a casa com comida e com petróleo porque eles vão trancar tudo![…]”