Arte urbana

As cores do grafite

Diógenes Moura mostra seu talento na arte urbana, com temática afro-brasileira

Romualdo Cruz Filho
30/07/2022 às 07:17.
Atualizado em 30/07/2022 às 07:17
Pintura do artista piracicabano Diógenes Moura (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)

Pintura do artista piracicabano Diógenes Moura (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)

Quem passa pela rua Antônio Correa Barbosa, entre a Rangel Pestana e XV de Novembro, vai ver, no lado direito, em sentido ao tráfego, um grafite colorido com dois casais dançando, com trajes específicos e traços fortes. Trata-se de um trabalho bem feito, que quebra a rotina do lugar. O responsável pela obra é o artista piracicabano Diógenes Moura. Foram praticamente dois dias para a execução, sem esboço prévio e seguindo apenas a intuição de suas pinceladas, ou melhor, dos seus tubos de spray. O tema do painel é o samba de lenço e o batuque de umbigada, culturas de tradição africana, trazidas para Piracicaba no período da escravatura.

Regina Elias, mais conhecida como Soberana Ziza, é a responsável pela iniciativa. Artista da Zona Norte de São Paulo, do Jardim Imperial, ela conta que o projeto ESTAMXSVIVXS (Estamos Vivos) recebeu financiamento pela lei de incentivo ProAC.

“Viemos a Piracicaba, além de outras quatro cidades do interior, com este projeto aberto. Para que isso fosse possível, abrimos seleção para encontrar artistas que tivessem formação em murais, residentes em cada uma dessas cidades escolhidas. Aqui em Piracicaba, Diógenes Moura foi o contemplado”.

Soberana Ziza conta que sua equipe rodou também por Sorocaba, Jundiaí, Campinas e São José dos Campos,onde deixaram seus murais temáticos, conhecidos como Arte Urbana.

“Na capital já há uma profusão de projetos, prêmios e incentivos com essa linguagem, diferente do que ocorre no interior do estado. Este é, portanto, um convite do Diógenes para que Piracicaba e São Paulo conheçam esta cultura, que está conquistando espaços nos livros escolares, cuja força fica evidente na arte urbana. O projeto, portanto, tem seu foco na recuperação da cultura negra e indígena, envolvendo artistas negros e indígenas, personalidades e histórias, estabelecendo conexão com as diversas vertentes culturais e sociais pela rua”.

Diógenes conta que se trata de uma arte bem democrática que se tornou sua especialidade. “Este painel tem a intenção de aproximar culturas que fazem parte da cidade, mas que nem sempre são conhecidas pelos próprios piracicabanos. É uma temática que eu domino, por isso conquistei a aprovação ao me inscrever para o edital e assim colaborar de alguma forma com a memória e cultura local. São estudos que tenho feito com o apoio do professor e filósofo Antônio Júnior, um agente cultural pelo qual tenho grande admiração. Bem como tenho acompanhado Júlia Madeira, em seus estudos e pesquisas com o professor Noedi Monteiro, relacionados aos batuques afros”. 

O artista piracicabano iniciou sua formação fazendo cursos livres de desenho e pintura, que culminou em um curso de licenciatura pela Faculdade de Administração e Artes (FAAL), de Limeira. “Já desenvolvi outros trabalhos na cidade, em bares e cervejarias, escolas, institutos educacionais entre outros. Fiquei sabendo do edital por uma chamada que a Ziza fez no canal dela no Instagram. Eu já conhecia o trabalho dela, de outras oportunidades em que trabalhamos juntos. Ao aceitar a empreitada, eu não trouxe esboço e não calculei o número de horas necessárias para a execução desta obra e ela está aí”.

Para cada proposta selecionada, em cada uma das cidades escolhidas, o artista contemplado no #ESTAMXSVIVXS recebe R$ 3 mil, para custeio do material e serviço de pintura e pagamento de cessão de direitos de imagem da obra de arte. Tudo financiado com recursos públicos do ProAC.

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